domingo, 26 de abril de 2009

Escritos da nossa saudade.




Eu:

É uma saudade gritante!!
Onça, Leão, que apodera, e forte, faz da sua presa tímida e vencida...

Mas não há de vencer o tempo, o sábio governador de tudo! Domador de feras interiores e de suas perversidades!! Digno da confiança e esperança das presas que tem nele sua escapatória mais certa!!


Theka:

É uma saudade tenor...
Tartaruga, Bicho-Preguiça, que apodera, e lento, faz da sua caminhada longa e desesperançosa.

Mas há um dia de chegar ao seu destino final. Cansado, desestimulado...Digno de um guerreiro que não pode dar fim à sua própria guerra.



E a saudade:

deixa de ser só energia. É aí personificada em duelo, embate, rebate. Vitoriosa em reciprocidade.

domingo, 19 de abril de 2009

Pulsação (Jean Wyllys)



Olá Caríssimos!!

Antes de quaisquer palavras mais, eu preciso fazê-los um pedido de desculpas. É notável a ausência de escrituras neste crisol virtual que (se) auto denomina colecionador.
A vida de universitário tem me deixado com pouco tempo para alguns prazeres, inclusive as leituras de bons textos e a partilha dos mesmos..

Procurando compensar a falta, hoje eu vos apresento um texto mais encorpado do que o de costume, mas, que demonstra nesse corpo um tocante de sensibilidade descomunal. De certo, vocês já estão acostumados à demonstração dessa qualidade, pois o seu detentor, Jean Wyllys, aprensentou-a continuamente por três meses em horário nobre ao fiel povo brasileiro. A crônica abaixo faz parte de uma compilação de sentimentos feitas pelo ex-personagem (agora autor) em seu nosso livro "Ainda Lembro".

Bon appetit!




PULSAÇÃO
Jean Wyllys


Caro amor que não veio e assim mesmo partiu (desculpe a redação fragmentária), se a vida é uma pergunta, escrevo para tentar respondê-la.

A melhor coisa da vida é sempre ter a certeza de que, depois de uma noite (mesmo a mais escura, fria e longa), o sol nascerá. Breve, muito breve, você estará onde quer.

Um dia de sol, mas de um sol pálido, sobretudo à tarde, quando os farrapos de nuvens no céu começaram a ficar rosa. Um a luz desmaiada que cobria de dourado fosco a baía, os navios adormecidos, a ilha, a Castro Alves, a rua Chile, um pedaço do Terreiro de Jesus e toda a cidade baixa, até onde se tem a vista do Bonfim. A luz pálida forrava tudo que é possível ver das janelas do apartamento.

Há, sem dúvida, uma essência que não muda, mas, em todo o resto, as pessoas costumam mudar. E acho que devemos sempre crer nessa capacidade de mudança, senão de nada valeriam nossas próprias discussões e aquela boa esperança, que mesmo o mais niilista, o mais pessimista, o mais pesado dos seres humanos, a ela sucumbe. Concordo que o excesso de luz, cega. A escuridão absoluta e a iluminação total são extremos que se tocam, assim como o amor e o ódio.

Poesia e mais ainda a prosa são a minha praia. Meu lar é você, Salvador, a imensidão e o mar. Você é um porto seguro, por onde passa uma brisa leve; o outro, com suas chuvas e tempestades, é apenas um porto alegre. Não há disputa. Nem dúvidas, Minha experiência com você é única. Como disse uma professora minha, caso uma pedra esmague cem, cada agonia é única. Com o amor – essa pedra que nos abate – acontece a mesma coisa.

Cheguei bem depois das cansativas quatro horas sobrevoando os céus entre o Sudeste e o Nordeste. Mesmo a imagem das cidades como circuitos eletrônicos acesos não foi o suficiente para aliviar o cansaço. Cheguei por volta das quatro horas e quinze minutos em Salvador. Peguei um táxi e fui para o Centro. Desabei, depois, em uma crise de choro, em parte pela impossibilidade de eternizar os momentos de prazer e felicidade (isso é o que chamam de saudade, em parte porque Salvador me parece sempre um pouco menor e monótona quando volto de qualquer viagem.
Há poucos dias vi um céu de estrelas. Depois de oitenta dias vendo uma massa escura cujos pontos luminosos foram apagados por holofotes de mercúrio, pude ver infinitos brilhos piscando coloridos no céu, de um lugar chamado Restiga de Marambaia, no Rio de Janeiro, bem depois da Barra e do Recreio dos Bandeirantes, onde já não se tinha a vista do Corcovado. Quem sabe você não é uma daquelas infinitas luzes?

A baía de Guanabara, vista da Janela de meu quarto, também lembra um céu de estrelas. Não, lembra um chão de estrelas, como descreve Orestes Barbosa – grande carioca! –em canção que Caetano – grande baiano! – parafraseia (não sei se a conjugação está certa) em “Como dois e dois”.

Agora, noite, uma lua no quarto crescente deixa um manto de prata no mar morto, Amanhã lembrarei novamente de você, como sempre. Estou à espera dos beijos prometidos

Quanto à nossa amizade, tenho a dizer que não duvido que você gosta de mim. Entretanto, sei que existem pessoas que agente gosta, ma não o suficiente para ligar, pedir notícias, saber onde e como está, compartilhar nem que seja uma canção, convidar para um passeio ou até chorar. Eu sou uma dessas pessoas para você. E durante muito tempo você foi exatamente o contrário para mim. Mas, com o tempo – e o amadurecimento dele decorrente -, aprendemos a não forçar a barra, a não pedir pressa ao rio.

Não era minha intenção fazê-lo chorar. Desculpe, embora eu ache que as lágrimas nos dão a exata noção de que não somos terra seca. O comentário, entretanto, foi sincero, mas sem o propósito de ser cruel. Abomino a crueldade, E você é uma das pessoas com as quais eu jamais seria cruel, nem mesmo em brincadeira.

Não precisa se punir; como eu já disse, eu não duvido de que você goste de mim. E ainda que a vida nos imponha essas escolhas, esses filtros, o meu amor é eterno: ficará guardado no fundo do armário de madeira do meu quarto, ao lado do computador, mesmo quando Salvador for uma cidade submersa e a vista da baía tenha se perdido.

Um filósofo, cujo nome não me lembro agora, disse que é preferível uma morte com bravura a uma vida sem combate. Eu concordo. Recolher a bandeira vermelha no seu caso (e no meu, e no de tantos outros), é o mesmo que morrer. E mesmo que você o faça, sempre haverá um farrapo vermelho tremulando ao vento, porque a esperança, ao contrário do que evoca nosso imaginário, é da cor de sangue. A vida toda é um doer. Mas também é rara e única, por isso a suporto com alegria crítica.