domingo, 26 de abril de 2009

Escritos da nossa saudade.




Eu:

É uma saudade gritante!!
Onça, Leão, que apodera, e forte, faz da sua presa tímida e vencida...

Mas não há de vencer o tempo, o sábio governador de tudo! Domador de feras interiores e de suas perversidades!! Digno da confiança e esperança das presas que tem nele sua escapatória mais certa!!


Theka:

É uma saudade tenor...
Tartaruga, Bicho-Preguiça, que apodera, e lento, faz da sua caminhada longa e desesperançosa.

Mas há um dia de chegar ao seu destino final. Cansado, desestimulado...Digno de um guerreiro que não pode dar fim à sua própria guerra.



E a saudade:

deixa de ser só energia. É aí personificada em duelo, embate, rebate. Vitoriosa em reciprocidade.

domingo, 19 de abril de 2009

Pulsação (Jean Wyllys)



Olá Caríssimos!!

Antes de quaisquer palavras mais, eu preciso fazê-los um pedido de desculpas. É notável a ausência de escrituras neste crisol virtual que (se) auto denomina colecionador.
A vida de universitário tem me deixado com pouco tempo para alguns prazeres, inclusive as leituras de bons textos e a partilha dos mesmos..

Procurando compensar a falta, hoje eu vos apresento um texto mais encorpado do que o de costume, mas, que demonstra nesse corpo um tocante de sensibilidade descomunal. De certo, vocês já estão acostumados à demonstração dessa qualidade, pois o seu detentor, Jean Wyllys, aprensentou-a continuamente por três meses em horário nobre ao fiel povo brasileiro. A crônica abaixo faz parte de uma compilação de sentimentos feitas pelo ex-personagem (agora autor) em seu nosso livro "Ainda Lembro".

Bon appetit!




PULSAÇÃO
Jean Wyllys


Caro amor que não veio e assim mesmo partiu (desculpe a redação fragmentária), se a vida é uma pergunta, escrevo para tentar respondê-la.

A melhor coisa da vida é sempre ter a certeza de que, depois de uma noite (mesmo a mais escura, fria e longa), o sol nascerá. Breve, muito breve, você estará onde quer.

Um dia de sol, mas de um sol pálido, sobretudo à tarde, quando os farrapos de nuvens no céu começaram a ficar rosa. Um a luz desmaiada que cobria de dourado fosco a baía, os navios adormecidos, a ilha, a Castro Alves, a rua Chile, um pedaço do Terreiro de Jesus e toda a cidade baixa, até onde se tem a vista do Bonfim. A luz pálida forrava tudo que é possível ver das janelas do apartamento.

Há, sem dúvida, uma essência que não muda, mas, em todo o resto, as pessoas costumam mudar. E acho que devemos sempre crer nessa capacidade de mudança, senão de nada valeriam nossas próprias discussões e aquela boa esperança, que mesmo o mais niilista, o mais pessimista, o mais pesado dos seres humanos, a ela sucumbe. Concordo que o excesso de luz, cega. A escuridão absoluta e a iluminação total são extremos que se tocam, assim como o amor e o ódio.

Poesia e mais ainda a prosa são a minha praia. Meu lar é você, Salvador, a imensidão e o mar. Você é um porto seguro, por onde passa uma brisa leve; o outro, com suas chuvas e tempestades, é apenas um porto alegre. Não há disputa. Nem dúvidas, Minha experiência com você é única. Como disse uma professora minha, caso uma pedra esmague cem, cada agonia é única. Com o amor – essa pedra que nos abate – acontece a mesma coisa.

Cheguei bem depois das cansativas quatro horas sobrevoando os céus entre o Sudeste e o Nordeste. Mesmo a imagem das cidades como circuitos eletrônicos acesos não foi o suficiente para aliviar o cansaço. Cheguei por volta das quatro horas e quinze minutos em Salvador. Peguei um táxi e fui para o Centro. Desabei, depois, em uma crise de choro, em parte pela impossibilidade de eternizar os momentos de prazer e felicidade (isso é o que chamam de saudade, em parte porque Salvador me parece sempre um pouco menor e monótona quando volto de qualquer viagem.
Há poucos dias vi um céu de estrelas. Depois de oitenta dias vendo uma massa escura cujos pontos luminosos foram apagados por holofotes de mercúrio, pude ver infinitos brilhos piscando coloridos no céu, de um lugar chamado Restiga de Marambaia, no Rio de Janeiro, bem depois da Barra e do Recreio dos Bandeirantes, onde já não se tinha a vista do Corcovado. Quem sabe você não é uma daquelas infinitas luzes?

A baía de Guanabara, vista da Janela de meu quarto, também lembra um céu de estrelas. Não, lembra um chão de estrelas, como descreve Orestes Barbosa – grande carioca! –em canção que Caetano – grande baiano! – parafraseia (não sei se a conjugação está certa) em “Como dois e dois”.

Agora, noite, uma lua no quarto crescente deixa um manto de prata no mar morto, Amanhã lembrarei novamente de você, como sempre. Estou à espera dos beijos prometidos

Quanto à nossa amizade, tenho a dizer que não duvido que você gosta de mim. Entretanto, sei que existem pessoas que agente gosta, ma não o suficiente para ligar, pedir notícias, saber onde e como está, compartilhar nem que seja uma canção, convidar para um passeio ou até chorar. Eu sou uma dessas pessoas para você. E durante muito tempo você foi exatamente o contrário para mim. Mas, com o tempo – e o amadurecimento dele decorrente -, aprendemos a não forçar a barra, a não pedir pressa ao rio.

Não era minha intenção fazê-lo chorar. Desculpe, embora eu ache que as lágrimas nos dão a exata noção de que não somos terra seca. O comentário, entretanto, foi sincero, mas sem o propósito de ser cruel. Abomino a crueldade, E você é uma das pessoas com as quais eu jamais seria cruel, nem mesmo em brincadeira.

Não precisa se punir; como eu já disse, eu não duvido de que você goste de mim. E ainda que a vida nos imponha essas escolhas, esses filtros, o meu amor é eterno: ficará guardado no fundo do armário de madeira do meu quarto, ao lado do computador, mesmo quando Salvador for uma cidade submersa e a vista da baía tenha se perdido.

Um filósofo, cujo nome não me lembro agora, disse que é preferível uma morte com bravura a uma vida sem combate. Eu concordo. Recolher a bandeira vermelha no seu caso (e no meu, e no de tantos outros), é o mesmo que morrer. E mesmo que você o faça, sempre haverá um farrapo vermelho tremulando ao vento, porque a esperança, ao contrário do que evoca nosso imaginário, é da cor de sangue. A vida toda é um doer. Mas também é rara e única, por isso a suporto com alegria crítica.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Título Desconhecido (Miguel Falabela)



Em alguma outra vida,
devemos ter feito algo de muito grave,
Para sentirmos tanta saudade...
Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé , doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa,
Dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe,
Saudade de uma cachoeira da infância,
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais,
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu,
Saudade de uma cidade,
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem estas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar no quarto e ela na sala, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela pra faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor,
Ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi à consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre culpada,
Se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na internet,
A encontrar a página do Diário Oficial, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros,
Se ele continua preferindo Malzebier, se ela continua detestando McDonalds,
Se ele continua amando, se ela continua a chorar até nas comédias.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos,
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento,
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música,
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
É não saber se ela está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que eu estive sentido enquanto escrevia
E o que você provavelmente estará sentindo depois que acabar de ler.

Indicação de Eraldo Jr.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Carta-desabafo-padrão (Fernanda Young)




Olá, queridos!
Nosso post de hoje trás um texto da irreverente Fernanda Young. Sempre muito despojada, Fernanda escreve sobre situações e sentimentos cotidianos o que leva seus leitores muito facilmente a identificarem-se com suas obras.
Apesar de cotidiana, Fernanda foge dos clichês, e trata as experiências com muita sinceridade e robustez, características que conferem uma realidade humanamente dramatizada!

Bon Appetit!




Carta-desabafo-padrão

Nome da cidade, tanto de tanto de dois mil e tanto

Nome do destinatário

Envio esta carta porque nunca mais quero você na minha frente. E dessa vez falo sério. Nunca mais quero ouvir a sua voz, mesmo que seja se derramando em desculpas. Nunca mais quero ver a sua cara, nem que seja se debulhando em lágrimas arrependidas. Quero que você suma do meu contato, igual a um vírus ao qual já estou imune.
A verdade é que me enchi. De você, de nós, da nossa situação sem pé nem cabeça. Não tem sentido continuarmos dessa maneira. Eu, nessa constante agonia, o tempo todo imaginando como você vai estar. E você, numas horas doce, noutras me tratando como lixo. Não sou lixo. Tampouco quero a doçura dos culpados, artificial como aspartame.
Fico pensando como chegamos a esse ponto. Como nos permitimos deixar nosso amor acabar nesse estado, vendido e desconfiado. Não quero mais descobrir coisas sobre você, por piores ou melhores que possam ser. Não quero mais nada que exista no mundo por sua interferência. Não quero mais rastros de você no meu banheiro.
Assim, chega. Chega de brigas, de berros, de chutes nos móveis. Chega de climas, de choros, de silêncios abismais. Para quê, me diz? O que, afinal, eu ganho com isso? A companhia de uma pessoa amarga, que já nem quer mais estar ali, ao meu lado, mas em outro lugar? O tédio a dois - essa é a minha parte no negócio? Sinceramente, abro mão. Vou atrás de um outro jeito de viver a minha vida, já que em qualquer situação diferente estarei lucrando. Mas antes faço questão de te dizer três coisas.
Primeira: você não é tão interessante quanto pensa. Não mesmo. Tive bem mais decepções do que surpresas durante o tempo em que estivemos juntos.
Segunda: não vou sentir falta do teu corpo. Já tive melhores, posso ter novamente, provavelmente terei. Possivelmente ainda esta semana.
Terceira: fiquei com um certo nojo de você. Não sei por quê, mas sua lembrança, hoje, me dá asco. Quando eu quiser dar uma emagrecida, vou voltar a pensar em você por uns dias.

Bom, era isso. Espero que esta carta consiga levantar você do estado deplorável em que se encontra. Mentira. Não espero nenhum efeito desta carta, em você, porque, aí, veria-me torcendo pela sua morte. Por remorso. E como já disse, e repito, para deixar o mais claro possível, nunca mais quero saber de você.
Se, agora, isso ainda me causa alguma tristeza, tudo bem. Não se expurga um câncer sem matar células inocentes.
Adeus, graças a Deus.

Nome do remetente.


P.S.: esta não é mais uma dessas cartas-desabafo.
P.S. do P.S.: esta é uma carta-desabafo-quase-música-de-Adriana-Calcanhoto.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Prosa Patética (Viviane Mosé)




Nunca fui de ter inveja, mas de uns tempos pra cá tenho tido.
As mãos dadas dos amantes tem me tirado o sono.
Ontem, desejei com toda força ser a moça do supermercado.
Aquela que fala do namorado com tanta ternura.
Mesmo das brigas ando tendo inveja.

Meu vizinho gritando com a mulher, na casa cheia de crianças,
Sempre querendo, querendo.

Me disseram que solidão é sina e é pra sempre.

Confesso que gosto do espaço que é ser sozinho.

Essa extensão, largura, páramo, planura, planície, região.

No entanto, a soma das horas acorda sempre a lembrança

Do hálito quente do outro. A voz, o viço.

Hoje andei como louca, quis gritar com a solidão,

Expulsar de mim essa Nossa Senhora ciumenta.

Madona sedenta de versos. Mas tive medo.

Medo de que ao sair levasse a imensidão onde me deito.

Ausência de espelhos que dissolve a falta, a fraqueza, a preguiça.

E me faz vento, pedra, desembocadura, abotoadura e silêncio.

Tive medo de perder o estado de verso e vácuo,

Onde tudo é grave e único. E me mantive quieta e muda.

E mais do que nunca tive inveja.

Invejei quem tem vida reta, quem não é poeta

Nem pensa essas coisas. Quem simplesmente ama e é amado.

E lê jornal domingo. Come pudim de leite e doce de abóbora.

A mulher que engravida porque gosta de criança.

Pra mim tudo encerra a gravidade prolixa das palavras: madrugada, mãe, Ônibus, olhos, desabrocham em camadas de sentido,

E ressoam como gongos ou sinos de igreja em meus ouvidos.

Escorro entre palavras, como quem navega um barco sem remo.

Um fluxo de líquidos. Um côncavo silêncio.

Clarice diz que sua função é cuidar do mundo.

E eu, que não sou Clarice nem nada, fui mal forjada,

Não tenho bons modos nem berço.

Que escrevo num tempo onde tudo já foi falado, cantado, escrito.

O que o silêncio pode me dizer que já não tenha sido dito?

Eu, cuja única função é lavar palavra suja,

Neste fim de século sem certezas?

Eu quero que a solidão me esqueça.



Sugerida por D.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Crônica do Amor (Arnaldo Jabor)



Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no
ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a
menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

AVISO - CdP

Olá, caros seguidores do Colecionador de Palavras!!

Até o próximo Domingo (25/01/2009), ficaremos sem postagens no blog. Estou participando de um Congresso da União Nacional dos Estudantes em Salvador e impossibilitado de acessar a Internet.´

Na próxima semana retornaremos a nossas literalidades!

Agradeço a todos pela compreensão!!

Jean Falcão
Webmaster CdP

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Há Momentos (Clarice Lispector)



Há Momentos - Clarice Lispector

Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.

domingo, 11 de janeiro de 2009

(Charles Chaplin)



Essa, definitivamente, dispensa qualquer introdutoriedade!


Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
"quebrei a cara muitas vezes"!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi, e ainda vivo!
Não passo pela vida…
E você também não deveria passar!

Viva!
Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é "muito" pra ser insignificante.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O contrário do Amor (Martha Medeiros)




Queridos, confesso: estava sem inspiração hoje! Sem aquele "tchan" necessário se fazer bem feito, sabe? Porém, QUERIA FAZÊ-LO! Isso basta!

Pensando, como sempre, em diversificar, fui em busca de sugestões para o menu de hoje. Eis que me deparo e deixo-me conquistar mais uma vez com a sensível robustez de Martha Medeiros, que levou o meu objetivo de miscelanizar a léguas longe daqui. Outros ventos certamente o trarão!

Enquanto isso, deixo-lhes na afável companhia da escritora gaúcha, esperando que levem o melhor dela para suas experiências de vida!




O contrário do Amor

O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.

O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.

Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.

Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.

Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Mulata Exportação (Elisa Lucinda)




6 de Janeiro - Para a tradição Católica é Dia de Reis! Dia de tirar os enfeites de Natal e reservá-los numa caixinha lá no alto do guarda-roupas e longe da poeira, para que sejam usados no próximo Dezembro.
Tá, isso nunca dá certo! Os pisca-pisca ressecam e soltam as luzinhas, as bolas perdem a cor e nós acabaremos tendo que comprar novamente tudo no próximo Dezembro.

Mas num é o que acontece? No dia de Reis guardamos tudo esperando que no próximo Natal possamos deixar nossa casa toda bonita como no que passou. Sabemos por experiências anteriores que não vai acontecer, mas a esperança de que aconteça está sempre lá!

É sobre isso o nosso papo de hoje: ESPERANÇA. Uma esperança que precisa ser cada vez mais posta em evidência por meio de ações: a esperança de um mundo melhor!

Eu sei, você deve ter pensado: Aff que saco! Lá vem aquele papo demagógico de começo de ano! NÃO!
Hoje a esperança que eu procuro incentivar tem em um dos seus pilares a ausência do preconceito!
Conceito pré-estabelecido: inerente à raça humana! No entanto cabe a você a decisão de usá-lo: como e quando!

Vale a pena refletir! E para tornar a reflexão mais especial, hoje mudamos um pouco a nossa rotina!! Temos no cardápio a poesia falada temperada pela atuação da fantástica Elisa Lucinda, que vivificando e extraordinariamente a poesia "Mulata Exportação" de sua autoria, sacia-nos a fome de ARTE!

Bon Appetit!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A Impontualidade do Amor (Martha Medeiros)




Olá, caríssimos!! É uma felicidade enorme saber que estão curtindo o blog! Me fazem muito feliz e simultaneamente grato pelos mais de cem acessos em cinco dias! É uma demonstração verdadeira de carinho!
Para comemorar, busquei hoje um texto da cronista, poeta e inteligentíssima gaúcha Martha Medeiros, da qual, as obras marcam pelo firme senso de realidade atrelado à maleabilidade da sensibilidade feminina.





A Impontualidade do Amor

Você está sozinho... Você e a torcida do Flamengo, em frente a TV, devorando um pacotes de bolachas, uma caixa de bombom, enquanto espera o telefone tocar. Bem que podia ser hoje, bem que podia ser agora, um amor novinho em folha. Trimmm! É a sua mãe, quem mais poderia ser? Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor não atende com hora marcada. Ele pode chegar antes do esperado e encontrar você numa fase meio "galinha", sem disposição para relacionamentos sérios. Ou pode chegar tarde demais e encontrar você desiludido da vida, com medo de sofrer de novo. Por que o amor nunca chega na hora certa?

O amor aparece quando menos se espera. Você passa uma festa inteira hipnotizado por alguém que nem lhe enxerga e não repara em outro alguém que só tem olhos para você. Ou você busca refúgio numa locadora de vídeo, ou no supermercado, sem prever que ali mesmo, você poderá encontrar a pessoa que dará sentido a sua vida. O amor é mesmo que nem tesourinha de unhas: nunca está onde a gente pensa. Seu amor pode estar nesse supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, na padaria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro. O amor está em todos os lugares, você é que não tem observado bem.

Não fique aí esperando um príncipe! Não espere ouvir "Eu te amo" num jantar à luz de velas, no Dia dos Namorados. O amor odeia clichês. Você pode ouvir "Eu te amo" quando você menos esperar, assim, "do nada". E as flores vão chegar num dia qualquer, apenas para informar como você é especial para alguém. Espalhe que o amor não é banal, é fundamental e que embora estejam distorcendo o sentido verdadeiro dele nos tempos modernos, ele existe e é o ingrediente mais importante da poção mágica chamada felicidade.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Beleza Não é Tudo (Eraldo Fonseca)




Olá meus caros! Estava eu procurando o deleite de hoje para vossos corações e Eraldo mais uma vez me surpreende prontamente com a escrita que podem acompanhar logo abaixo. Uma sincera sensibilidade traduzida em versos propriamente ausentes de rodeios e prolixidades afins.


Beleza Não é Tudo

Pra mim beleza não é tudo!
Ela só serve mesmo como fator de atração.
Serve pra atrair,trair,escravizar!
Pra mim beleza não é tudo!
O jeito de ser é o mais belo!
É ele que faz os feios ficarem lindos e os bonitos fascinantes!
Não, Beleza não é tudo!
Vocabulário! Taí, esse é fundamental!
O que uma palavra bem empregada no momento exato não é capaz de fazer?
Beleza é efêmero! Sua atitude não, beira o eterno!
Uma pessoa bonita sem atitude é como um flor inodora!
É bonita fora mas não tem essência, não se tem o essencial!
O abstrato é bonito! Pois por não ter forma, não aprisiona! Qualquer um é livre para imaginá-lo da maneira que quiser sendo, pois, o mais belo imaginável!
Beleza não é essencial!
Essencial é ter um sorriso faceiro!Que encanta!
Uma pureza no olhar, mesmo que ele esteja manchado pelo rimel ou com olheiras resultantes de uma longa noite de sono!
Mas quando se é bonita, tem todo um jeito especial de ser, tem um vocabulário bacana, um sorriso lindo e um olhar encantador que te remete aos sentimentos mais puros!
Aí sim! Podemos afirmar com todas as convicções! Ela é linda! E argumentos não faltam!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Rifa-se um Coração (Clarice Lispector)



Para começarmos o ano firmemente apoiados no pé direito, o Colecionador de Palavras estréia sua coletânea 2009 com a obra inominável Clarice Lispector. No poema que poderão degustar abaixo, ela utiliza-se mais uma vez da sua sensibilidade única para dar voz a um coração consciente da necessidade de outro que lhe auxilie a sacudir a poeira e consertar os remendos que experiências antigas deixaram, a fim de seguir rumo à felicidade.

Rifa-se um coração
Um coração idealista
Um coração como poucos
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque
Que insiste em pregar peças no seu usuário.

Rifa-se um coração
Que, na realidade, está pouco usado
Meio calejado, meio machucado
E que teima em alimentar sonhos e cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente
Que nunca desiste
Um leviano
E precipitado coração
Que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu:
"Não quero dinheiro, quero amor sincero, isso é que eu espero!"
Um idealista
Um verdadeiro sonhador.

Rifa-se um coração
Que nunca aprende, que não endurece
E mantém sempre viva a esperança de ser feliz.
Sendo simples e natural.
Um coração insensato
Que comanda o racional
Sendo louco o suficiente
Para se apaixonar.
Um furioso suicida
Que vive procurando
Relações e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração
Que insiste em cometer
Sempre os mesmos erros.
Esse coração
Que erra, que briga, se expõe
Perde o juízo por completo
Em nome de causas e paixões. Sai do sério e, às vezes,
Revê suas posições
Arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido
Tantas vezes provocado
Tantas vezes impulsivo
Um coração para ser alugado
Ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes. Um coração abastado
Indicado apenas para quem quer viver intensamente.
E, contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida
Defendendo-se das emoções.

Rifa-se um coração
Tão inocente
Que se mostra
Sem armaduras
E deixa louco
O seu usuário.
Um coração que, quando parar de bater, ouvirá seu usuário dizer:
"O senhor pode conferir, eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento,
Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança,
Que insiste em não endurecer se recusa a envelhecer."

Rifa-se um coração
Ou até mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo,
Um órgão fiel ao seu usuário
Um "amigo do peito" que não maltrate tanto o ser que o abriga
Um coração que não seja tão inconseqüente.

Rifa-se um coração
Cego, surdo, mudo
Mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado.
Provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais
Por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano,
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado,
Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar.
Uma vez por outra constrange o corpo que domina.
Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos,
A ter a petulância de se aventurar como poeta.