sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O contrário do Amor (Martha Medeiros)




Queridos, confesso: estava sem inspiração hoje! Sem aquele "tchan" necessário se fazer bem feito, sabe? Porém, QUERIA FAZÊ-LO! Isso basta!

Pensando, como sempre, em diversificar, fui em busca de sugestões para o menu de hoje. Eis que me deparo e deixo-me conquistar mais uma vez com a sensível robustez de Martha Medeiros, que levou o meu objetivo de miscelanizar a léguas longe daqui. Outros ventos certamente o trarão!

Enquanto isso, deixo-lhes na afável companhia da escritora gaúcha, esperando que levem o melhor dela para suas experiências de vida!




O contrário do Amor

O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.

O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.

Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.

Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.

Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto.

2 comentários:

Anônimo disse...

"A indiferença é um exílio no deserto."

Perfeitooooooo!!!
Sempre escolhe os melhores textos,né?!
PARABÈNS!!!



xerooo

Julinha disse...

Eu ja tinha ouvido algo sobre o contrário do amor ser a indiferença e vagando em meus pensamentos sobre isso, sempre concordei com a frase...mas essa Marthinha encontrou a receita, o passo-a-passo para que isso ficasse claro, bem claro....
E parabéns por selecionar textos tão "encorpados", que falam tanto...